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segunda-feira, 30 de maio de 2016

Os indomáveis Vikings


Os indomáveis Vikings 

A palavra Viking significa pirata, e muitas pessoas confundem-nos como meros selvagens e desbravadores. Os vikings, pelas minhas pesquisas, nada mais eram do que piratas desbravadores que colonizaram alguns locais da Europa. São originários da Escandinávia, atualmente Suécia, Noruega, Dinamarca, Finlândia e Islândia. Como era um lugar frio, suas principais vestimentas eram o couro, peças de tecido e peles de animais, algo grosso que pudesse mantê-los aquecidos. Todos apreciavam acessórios de metal (dá pra perceber né?!). Eles se organizavam em uma sociedade patriarcal, sendo o homem o membro mais forte e o responsável pela família. A mulher era basicamente a dona de casa dedicada, e suas principais tarefas baseavam-se em cuidar dos filhos e marido, além da arte da tecelagem, mas nem por isso significava que elas eram submissas ou não tinham um papel importante na sociedade. Eram consideradas mulheres livres, e muitas eram lutadoras e guerreiras. Havia um rei, que era respeitado por todos, a autoridade máxima, e em cada território colonizado havia um conde, que respondia por aquele pedaço de terra, mas que era obediente às ordens do rei.


Por serem um povo politeísta, adoravam muitos deuses. Acho que o mais popular entre nós realmente é o Thor, filho de Odin e um dos deuses mais fortes de Asgard (o reino dos deuses). Em grandes tempestades, os raios eram conhecidos entre os nórdicos como a fúria de Thor com seu martelo, Mjölnir. Odin era considerado o Deus dos Deuses e um dos criadores do universo, que era baseado na árvore da vida, ou Yggdrasil. Os Vikings adoravam o Sol e a Lua e acreditavam que o inferno era um lugar gelado para onde ia o espírito dos doentes e covardes. Aqueles que morriam em combate iam para Valhala, um salão onde passariam a jantar com Odin e os outros deuses. Por isso, os vikings não tinham medo de morrer nas batalhas, pelo contrário, sentiam-se honrados com essa possibilidade. Daí vem a voracidade com que lutavam, sem medo de perderem suas vidas.



Acreditavam que o destino estava traçado desde o nascimento, portanto batalhas, mortes e acontecimentos eram encarados com normalidade e grande aceitação entre todos. Gostavam de colocar nomes dos deuses em seus filhos, destacando suas características físicas em semelhança com o deus escolhido. Quanto às crianças, os homens começavam a aprender sobre luta cedo, e o bebê que nascesse com alguma deformidade era rapidamente descartado, para que não sofresse no futuro ou fosse rejeitado pelos deuses e pela comunidade.

Sempre contavam histórias sobre o Ragnarok, que era o evento onde aconteceria a última e sangrenta batalha dos deuses e a destruição do mundo. Por isso, acreditavam muito em sinais e em pessoas que eram tidas como videntes ou oráculos, sempre pedindo conselho em tudo o que fossem fazer.

Sacrifícios humanos eram vistos com bons olhos, pois a pessoa que se oferecia em sacrifício para algum Deus acreditava que logo após estaria em Valhala. Os sacrifícios eram necessários para que os deuses não se ofendessem e abençoassem o povo com fartura de alimentos, chuva, vitória em batalhas, etc..

Do ponto de vista cristão, os Vikings eram muito cruéis, não tinham medo da dor, e nem de causá-la em outras pessoas, principalmente nos inimigos. O método mais cruel de tortura se chamava Águia de Sangue, que consistia em cortar as costas do inimigo com faca, arrancar as costelas para fora e em seguida tirar os pulmões, de forma que a vítima continuasse respirando. A imagem dos pulmões se enchendo de ar dava a impressão de que o indivíduo possuía asas. Tudo isso era feito com a vítima ainda viva. Felizmente (ou não), esse método era praticado contra traidores do Conde, ou alguém que praticasse um delito imperdoável.


Após o processo de cristianização da Europa na Idade Média, todos os povos com religiões distintas foram se dizimando. O mesmo aconteceu com os Vikings, que acabaram convertidos nessa nova religião. A dissolução da cultura viking começa entre os séculos XI e XII, mas os diversos conflitos entre ingleses e os povos nobres da Normandia (França) terminaram por desintegrar essa civilização, que ainda possui adeptos na Europa e em algumas partes do mundo.


A criação do mundo

Antes da existência do mundo existia ao Norte uma terra de gelo (Nilftheim) e ao Sul uma terra de fogo (Muspelheim). Entre elas havia um grande vácuo, que recebia as águas congeladas de um lado e a lava de outro. Dessa fusão de gelo e calor, nasceu o gigante Ymir e a vaca Audhmumla. Do suor de Ymir nasceram outros gigantes, e em meio ao gelo que vinha do Sul a vaca encontrou Buri, o primeiro dos deuses, que se casou e teve filhos, e depois netos, que se chamaram Odin, Villi e Ve. Eles viveram em paz por um tempo, mas com o passar dos anos os três começaram a se sentir ameaçados. Então, chegaram à conclusão de que precisavam matar Ymir para que novos gigantes não pudessem mais nascer. Juntos eles mataram Ymir e deram origem ao nosso mundo, Midgard, a partir de seus restos. A carne se tornou terra, o ossos, montanhas. Seus cabelos deram origem às plantas e às árvores, e os dentes viraram rochas. A cabeça de Ymir virou o céu e os pedaços do cérebro, as nuvens.

Enquanto Odin e seus irmãos construiam o mundo, perceberam que haviam muitos vermes procurando restos da carne de Ymir. Decidiram então transformar os vermes em anões e pediram que quatro deles segurassem o céu. Cada um recebeu o nome de um ponto cardeal e foi enviado para uma das extremidades. Dessa maneira, Midgard (ou Terra Média) foi criada.
Em uma de suas típicas caminhadas, Odin e seus irmãos encontraram dois troncos de árvore sem vida, e decidiram transformá-los em seres vivos, e dessa forma surgiu o primeiro casal de seres humanos, que foram enviados para viver na Terra Média.


A árvore da vida A mitologia viking é baseada em Yggdrasil, uma árvore gigantesca que servia como eixo do universo, abrigando Midgard (no centro), o mundo dos deuses (no alto) e os demais mundos (próximo às raízes). A enorme árvore era regada pelas Nornes, as Senhoras do Destino, que eram responsáveis por determinar tudo o que já havia acontecido ou que viria a acontecer. Daí vem a crença deles de que tudo já está planejado, desde antes do nascimento até a morte. Não há criatura cujo poder se equipare com o delas.



Yggdrasil




As Runas Vikings



Não sei se todos conhecem ou se já ouviram falar nas runas do Deus Odin, que são baseadas no antigo alfabeto nórdico. As runas Vikings são um alfabeto mágico utilizado pelos antigos povos da Europa, especificamente os nórdicos, para fins mágicos, incluindo adivinhações e previsões. O nome runa vem do antigo norueguês "run", que significa mistério ou segredo. Este "run" teria vindo do antigo alemão "runa", que significa "aquele que sussurra", que também veio do radical indo-europeu "ru", que quer dizer "coisa misteriosa e secreta".


As runas eram uma escrita alfabética simples que podia ser adaptada para vários usos: comemorativos, jurídicos e práticos. A magia foi uma aplicação que os Vikings lhe deram. Os caracteres rúnicos também eram especificamente uma escrita nórdica. Na Escandinávia se desenvolveram sinais característicos, muito simplificados. A escrita rúnica consiste mais em linhas retas que em linhas curvas, e geralmente se pensa que foi desenvolvida para gravar em madeira. Rapidamente as runas foram usadas em ossos, metais e pedras.

No inicio da era Viking, o alfabeto continha apenas 16 letras, mas elas não bastavam para representar todos os sons das línguas nórdicas. Por esses motivos, o alfabeto rúnico modificou-se, totalizando as 24 letras conhecidas hoje. Com muitos sons e poucas letras, o alfabeto ainda é muito difícil de interpretar.


Runas Vikings

As Runas são uma forma de mancia para quem não conhece muito outras técnicas (como o Tarot) e quer obter respostas para algumas questões. Por ser de fácil manuseio e aquisição, muitas pessoas acabam recorrendo à prática. É o meu método preferido, porque me dá respostas rápidas e me faz pensar sobre o que perguntei. Como já disse em postagens anteriores (acho que sobre Quiromancia), não acredito que os oráculos nos mostrem previsões para o futuro, e sim caminhos que PODEMOS escolher, junto com o resultado de nossas escolhas. Gosto das Runas porque é um método que não requer muita pesquisa e nem treino, e na maioria das vezes elas me ajudam em muitas questões, é engraçado como as respostas sempre batem..

Cada runa representa um arcano ligado a uma entidade da mitologia nórdica, sendo que cada símbolo carrega uma energia vital e uma vibração próprias, que podem ser combinadas entre si.
Embora sejam sempre usadas como oráculos, as runas podem ser utilizadas em encantamentos e como símbolos mágicos (colocar uma runa atrás da foto de um doente para a cura, por exemplo).

Para jogar é fácil. Vou ensinar dois tipos de jogos, um com apenas uma pedra e outro, mais complexo mas com uma visão mais ampla do fato, com três. São 25 pedras, sendo 24 com um símbolo rúnico e uma em branco. As Runas são divididas em grupos de 3, e a cada grupo damos o nome de AETT, que significa clã ou família em escandinavo, com oito runas em cada grupo. Abaixo, seguem os grupos e o significado de cada runa:

AETT DE FREY
Essa família de oito runas representa os oito primeiros passos do aspirante em busca de sua meta. É a saída do lar e o abandono do conforto material para partir em busca das forças da natureza. Liga-se de forma superficial à vida material do buscador. Seus símbolos incluem a força, a proteção, a riqueza, a sabedoria, a viagem, a iluminação, os presentes e a alegria. É a família que mais representa o lar e por isso é tido como ponto de partida da jornada.


FEOH - FREY

Frey é o deus nórdico da fertilidade e a ele é consagrada esta runa. Ele também era o deus fálico da paz, da felicidade e da abundância e pertence ao panteão mais antigo dos deuses nórdicos, conhecidos como Vanir e cultuados pelos povos escandinavos antes da idade do Ferro.

É uma runa de sentido material e lembra que a verdadeira riqueza deve ser partilhada, ou o avarento prestará contas no devido momento. Isso vale para os tesouros físico e para os tesouros espirituais. É muito comum reter-se conhecimento, seja na área esotérica e religiosa, seja na área profissional, mantendo os outros numa espécie de prisão de ignorância. forçando a dependência. O conhecimento deve ser partilhado, assim como as riquezas, entre aqueles que o buscam.

Significado divinatório: 
Posição normal: Dinheiro, grande riqueza, sucesso.
Posição invertida: Falência, perda de autoestima.



UR - PODER

É a runa do boi bravo, da luta pelo que se quer. No plano físico, esta runa representa a centelha do impulso, a motivação e o engrandecimento pessoal. No plano espiritual, simboliza a individualidade e a busca pela iluminação pessoal por caminhos diferentes dos tradicionais. O fato é o seguinte: qualquer um que busque algo "fora" do padrão estabelecido está se colocando também, automaticamente, fora dos padrões estabelecidos. Esta runa simboliza o primeiro passo que é "querer". Se sente aquele vazio e acha que deve haver algo mais, seu desejo desse algo mais o impulsiona para frente. Ur representa o boi bravo, símbolo do poder elemental, da virilidade e da força bruta.

É também um símbolo de sacrifício para o progresso, já que muitas vezes se sacrificava um boi aos deuses. É a runa do buscador que desperta para o mundo oculto e parte em busca do aprendizado, sem medo. É um desbravador.

Significado divinatório: 
Posição normal: Boa sorte, evolução e progresso numa carreira. 
Posição invertida: Pequenos problemas de doença, influências negativas e perda de oportunidades.


THORN - THOR

Em algumas versões, esta runa recebe o nome de "gigante" ou "demônio", provavelmente por influência cristã. Ela representa os pequenos problemas da vida que podem atrapalhar quem busca algo maior. Esses pequenos problemas são como travas e, mesmo não sendo grandes provações, podem dissuadir alguém a ir mais longe. Por exemplo, falta de dinheiro para fazer um curso, etc..São pequenas provações que podem fazer o buscador travar e desistir de sua jornada.

Quando isso acontece, as árvores se adensam e a floresta se fecha, fechando o caminho para a jornada, ao menos por enquanto. Afinal, se a pessoa não é capaz de passar por pequenas provações, que dirá pelas grandes. Assim é melhor que espere outro momento. Para quem quiser insistir depois da primeira desistência, é bom estar preparado para maiores dificuldades.

Significado divinatório: 
Posição normal: Proteção. Receberá notícias distantes. Uma decisão importante deverá ser tomada. 
Posição invertida: Tomará uma decisão sem pensar. Más notícias a caminho.



OS - ODIN

O antigo nome desta runa era Ansuz, cuja tradução significa Príncipe de Asgard e Senhor do Valhala, títulos que descreviam Odin, o Pai de Todos. Os romanos ligaram a imagem de Odin à Mercúrio, mensageiro dos deuses. Essa runa representa a comunicação, em especial à tradição e ensinamentos orais mantidos por séculos. Esta runa aconselha ao iniciado a falar gentilmente e que a sabedoria muitas vezes vem de fontes inesperadas.

Significado divinatório: 
Posição normal: Ouça alguém mais velho, pois receberás sabedoria ou um bom conselho. Comunicação. Heranças e ganhos relacionados à família. 
Posição invertida: Rumores e fofocas confundem as coisas. Alguém mal intencionado dará mau conselho. Uma pessoa mais velha causará problemas.



RAD - RODA

Essa runa lembra a importância de se viver em equilíbrio. O mundo material faz parte de nosso aprendizado e isolar-se para alcançar a iluminação suprema não é o caminho para o buscador esotérico. Ele deve se lançar à jornada e ficar aberto às formas de aprendizado. Essa runa aconselha a sair da sua própria sala e não ter medo de ir para o mundo, mesmo que os caminhos pareçam sempre retornar ao ponto de partida. Também lembra que o aprendizado pode estar muito mais próximo do que você imagina ou espera. 

Significado divinatório: 
Posição normal: Viagem. Uma viagem ou um dia santo trarão felicidade iu ajudarão nos progressos de seus objetivos.
Posição invertida: Visita a parentes ou amigos com problemas ou parentes doentes. Objetivos e projetos adiados. Uma viagem desagradável.




CEN - FOGO

O fogo possui um significado rico em todas as culturas. Para os nórdicos, ele era a energia masculina, que cria, consome e destrói, provocando assim a renovação que mantém o ciclo em movimento. Esta runa lembra que não se deve manter o conhecimento guardado numa caixa. Ele também deve deixar sua própria luz brilhar a fim de servir de guia para os outros. Aprenda e compartilhe.

Significado divinatório: 
Posição normal: Iluminação. Receberá orientação de pessoas de alto nível social ou em posição acima da sua.
Posição invertida: Perda de posses de valor e/ou prestígio social.




GYFU - PRESENTE

Nos antigos povos germânicos, o presente tinha um simbolismo mais profundo do que nos dias de hoje. Dar um presente representava uma responsabilidade mútua entre quem deu e quem recebeu. Socialmente, as pessoas eram valorizadas pelo número de presentes que elas davam aos menos favorecidos, tal a importância da doação. Neste sentido, tínhamos também os sacrifícios, feitos a uma divindade através do sangue (geralmente de animais, mas por vezes, humano). Esta runa lembra que nada vem de graça e que um preço deverá ser pago pelo progresso no mundo esotérico.


Significado divinatório: 
Posição normal: Presente que revela ou confirma um amor correspondido ou consolida relacionamentos. Casamento ou noivado.
Posição invertida: Separação. Fim de um relacionamento de amor ou de amizade. Tristeza causada por pessoas muito próximas e queridas. 



WYN - ALEGRIA

Esta runa aconselha ao buscador que não se deixe levar pelo pessimismo, pois ele é autodestrutivo. Ao contrário, dê valor aos momentos infelizes, pois eles são passageiros. A alegria é uma escolha sua e um estado de espírito. Independe dos problemas que o cercam. 

Significado divinatório: 
Posição normal: Mudança da vida para melhor. Felicidade.
Posição invertida: Tristeza. Perda de afeição de pessoas queridas.

AETT DE HAEGL
Depois dos primeiros passos em nossa jornada, ingressamos na segunda família das runas. Saímos do conforto do nosso lar onde contamos as nossas incríveis histórias para partir em campo aberto em busca de aventuras de verdade. Nas próximas oito runas, aprendemos a trabalhar com as forças da natureza, aqui identificadas como divindades pagãs, e a encarar nossos desafios em mais uma etapa da jornada do herói.



HAEGL - AR

Esta runa refere-se ao Destino, aquele que nos arrasta pra lá e pra cá, atrapalhando nossos planos. Recebe o nome de Ar porque o Destino é como este elemento. Passa por tudo e pode ser uma simples brisa ou uma ventania que arranca nossos telhados e nos deixa sem chão. O buscador aprende com esta runa a compreender que nem tudo se compreende. Quando nos deparamos com as teias do destino, não conseguimos explicar o que aconteceu para que estejamos naquela situação. O conhecimento desta runa dá ao buscador conformidade e a certeza de que tudo vai passar. Nenhuma catástrofe dura para sempre, por mais que assim nos pareça. Ela também lembra que, ao saber o que o aguarda, o buscador tem como se prevenir e usar seus conhecimentos para trabalhar junto ao destino e não lutar contra ele.


Significado divinatório: 
Posição normal: Adie seus planos, pois o destino está jogando contra. Doença.
Posição invertida: Planos adiados por motivo de força maior. Também simboliza catástrofes e desastres naturais.

NYD - NECESSIDADE

Esta runa é interessante. Quando falamos de necessidade, sentimos um frio na barriga. Ninguém gosta de "sentir necessidade" de coisa alguma. Gostamos de nos sentir confortáveis e isso só acontece se nos sentimos completos, e ai entramos num dilema: Precisamos mesmo de tantas coisas para nos sentirmos completos?
Nyd é um lembrete para as necessidades do espírito, postas de lado em detrimento das falsas necessidades da indústria de consumo moderna. Muitas vezes, a necessidade que se apresenta é da alma e pede uma busca mais elevada e menos material. Quando consertar a parte espiritual, a parte material se conserta por tabela.


Significado divinatório: 
Posição normal: Cautela e cuidado para que suas metas sejam alcançadas. Olho vivo com a cobiça.
Posição invertida: Seja lá qual tenha sido a pergunta, é um aviso claro para que se pense duas vezes antes de agir. Um julgamento precipitado levará ao desastre iminente.



IS - GELO

Esta runa fala do gelo, que possui um papel importante no mito nórdico da criação. Vivendo em eterno conflito com o fogo, o gelo é ambivalente. sendo, ao mesmo tempo, traiçoeiro, escorregadio, brilhante e cintilante. Espiritualmente, esta runa simboliza a passagem do buscador para um novo nível de desenvolvimento. O gelo nada mais é do que a água congelada e é a força primordial inerte, cuja luta cósmica com o fogo gerou a criação. Dentro do conceito de negativo e positivo, podemos imaginar que o mundo precisa sempre dessas duas forças e conceitos, não importa que nome recebam, para continuar estável, como uma grande roda que gira.


Significado divinatório: 
Posição normal: Relacionamento que esfria e um obstáculo no seu caminho.
Posição invertida: Brigas com amigos e parentes.



GER - TERRA

Esta runa simboliza o crescimento, a fertilidade, o renascimento e a regeneração. É dedicada a Nerthus, a Grande Deusa Mãe, adorada na Europa setentrional durante as Idades do Bronze e do Ferro. Espiritualmente, esta runa representa o fim de uma etapa e começo de outra, conduzindo o buscador para mais perto de sua meta. É uma runa lenta, que afirma que tudo tem seu tempo e o fruto só amadurecerá na hora certa. Ela está ligada às leis do Universo e não às leis de tempo criadas pelos homens. Ger também afirma que quem planta batatas não pode esperar colher maçãs. Cada um colherá o que plantar, no tempo certo.


Significado divinatório: 
Posição normal: Advertência contra a maledicência e a calúnia. Não é hora de julgar ninguém, especialmente sem conhecer todos os fatos. Momento de esperar.
Posição invertida: Palavras não voltam atrás. Palavras ríspidas causarão arrependimento. Problemas com a lei.

EOH - MORTE

É uma runa que pede coragem. A morte é um momento de transição e assim deve ser encarada. Quem tem medo da morte deve repensar seus conceitos e aprender a vê-la como um passo a mais. Tudo é cíclico. Morrer aqui é renascer em outro lugar.

Significado divinatório: 
Posição normal: Morte. Adiamento de planos. Notícias de alguém do passado (amigo ou inimigo).
Posição invertida: Morte. Retorno de antigos problemas. Nostalgia pouco saudável e ilusória do passado ("Antigamente que era bom..")




PEORTH - LAREIRA

Esta runa indica que a sabedoria tem muitas faces e que o buscador receberá a ajuda de um estranho. Ela também adverte para a superficialidade que procura apenas as aparências. Ela pede para que se fique atento aos conselhos, pois a ajuda virá, mas o buscador precisará reconhecê-la.

Significado divinatório: 
Posição normal: Pessoa que age como guia ou mestre espiritual do consulente. Ganhos inesperados de fonte misteriosa. Conhecimento oculto.
Posição invertida: Um esqueleto sai do armário: um segredo constrangedor de família vêm a público. Segredos do passado revelados. 


EOLH - PROTEÇÃO

A runa Eolh avisa que o caminho do buscador em busca da iluminação oferece perigos e tentações. Ele será tentado a desistir de sua jornada, seja pela oferta de um caminho mais fácil em outra religião, seja por distrações materiais. Apesar deste aviso, a runa também representa proteção. O buscador prosseguirá em seu caminho, ainda mais resoluto do que antes.

A mensagem desta runa é não se deixar levar por prazeres superficiais, o caminho mais fácil. Ela também lembra que deve haver um equilíbrio entre matéria e espírito. Abandonar completamente as coisas materiais também não resolverá o problema. A palavra é equilíbrio. Prossiga em seu caminho, tenha seus prazeres, não abandone nem um, nem outro, pois o caminho da magia natural é viver em uníssono com o que nos é oferecido pelo planeta.

Significado divinatório: 
Posição normal: Início de uma nova carreira. Proteção e afastamento de energias e influências negativas.
Posição invertida: Cuidado com estranhos, pois estes oferecem perigo neste momento. Pessoas com a capacidade de iludir devem ser evitadas a todo custo. Perdas materiais irrecuperáveis. 


SIGIL - SOL

Esta runa revela que o eu superior do buscador brilhará e o guiará pelo mar da experiência. Também é uma runa de equilíbrio, pois representa, de acordo com o antigo poema rúnico, a união do Sol e do Mar, da Terra e do Céu, da Matéria e do Espírito. É a runa final desta fase e prepara o iniciado para a etapa final de sua jornada.

Significado divinatório: 
Posição normal: Saúde. Força vital em alta. Orientação na vida.
Posição invertida: Aviso sobre perigos para a saúde provenientes de excessos, estresse e esforço excessivo. 



AETT DE TYR
Esta família de runas nos guia para a parte final da jornada, com símbolos ligados ao renascimento e recomeço, pois o fim é o começo, no eterno ciclo das coisas.


TYR - TIW

Para os antigos nórdicos, Tyr ou Tiw era o deus da guerra e uma das principais divindades do panteão (conhecido como Aesir). Comparado à Marte, Tir representava a coragem e tenacidade necessárias para conquistar um objetivo. Essa runa simboliza a meta que o buscador almeja. A iluminação espiritual parece se afastar cada vez que parece estar ao alcance. O buscador deve ter coragem e prosseguir, pois o caminho da iluminação exige por vezes.

Significado divinatório: 
Posição normal: Felicidade. Um caso de amor que resiste ao tempo.
Posição Invertida: Amor frustrado. Infelicidade com o par. Problemas de origem emocional. 


BEORC - NASCIMENTO

Esta é uma runa que simboliza a sexualidade e o jogo enganoso das aparências. Lembra da princesa que beijava o sapo? Essa é uma versão patriarcal dos antigos contos celtas onde uma velha feia pedia a um jovem que fizesse amor com ela. Depois que vencia a repugnância, o jovem via a velha se transformar numa bela e voluptuosa jovem, uma representação da Grande Deusa, símbolo da fertilidade.
Esta letra rúnica avisa que nem tudo é o que parece. Ela também lembra que a iluminação também ocorre com os prazeres da carne, assim como o amor verdadeiro, e estes são uma forma de alcançar a divindade.

Significado divinatório: 
Posição normal: Novos começos, nascimento, crescimento, casamento ou oficialização de relação.
Posição invertida: Estagnação, separação, divórcio. 



EH - CAVALO

Esta é uma runa que contrasta com a runa anterior. Enquanto a Beorc incentiva a ligação emocional e concorda com os prazeres carnais, a runa Eh avisa que, às vezes, as emoções devem ser controladas para que se alcance a meta. O cavalo é um animal sagrado, dedicado aos deuses na antiga mitologia céltica e esta letra rúnica se refere aos cavalos que puxavam a carroça solar pelo céu todos os dias. É também uma referência ao cavalo que o xamã usa em suas viagens ao outro mundo (em viagens astrais).

Simbolicamente falando, esta runa indica o controle das emoções para alcançar a vitória. Nem tudo é como gostaríamos e temos que aprender a lidar de forma madura com a frustração, o amor não correspondido, a injustiça e todas as outras coisas que não podem fazer o buscador perder a cabeça e desviar-se de seu caminho.

Significado divinatório:
Posição normal: Mudança (de emprego, de casa, de situação). Viagem.
Posição invertida: Viagem frustrante que termina em derrota. Melhor nem sair de casa.


MAN - HOMEM

Esta runa avisa que o buscador deverá partir o cordão umbilical que o prende à família e partir em seu próprio caminho. Apesar da família ser muito importante para os antigos nórdicos, o sentido de família nesta runa é um tanto mais amplo, simbolizando tanto os parentes próximos quanto os amigos.

O significado é esperado. Quando se ingressa no caminho da busca pela iluminação, é muito difícil que todos que nos cercam nos acompanhem. Logo, fica cada vez mais difícil estar na mesma sintonia que eles. A runa Man avisa que muito provavelmente haverá necessidade de uma reciclagem de amigos, pois novas pessoas irão surgir para compartilhar da nova cabeça do buscador. Ou ele deverá se conformar com o caminho solitário.

Significado divinatório:
Posição normal: Parentes. Conflito com a ordem estabelecida e o mundo lá fora.
Posição invertida: Isolamento da família autoimposto para um momento de reflexão (você precisa de um momento só seu). Cuidado com inimigos ocultos.



LAGU - ÁGUA

Esta runa remete ao lado tempestuoso da vida do buscador, onde ele é lançado de um lado para outro como um barco à deriva num mar encrespado. Lembrando que a água tem a ver com o lado emocional, é fácil entender porque é justamente este lado que parece nos deixar sem rumo quando fora de controle.

A runa Lagu recomenda que se busque suas próprias verdades, mesmo que tenha que mergulhar profundamente em si mesmo para isso. A insegurança e o sentimento de abandono e dúvidas acerca de si mesmo diante de erros e enganos fazem parte da jornada do buscador. A dica é usar esses períodos para angariar experiências.

Significado divinatório:
Posição normal: Intuição e poderes psíquicos. Viagem por água.
Posição invertida: É preciso se centrar mais, pois os pensamentos estão confusos. Engano, confusão.


ING - FERTILIDADE

Ing foi um misterioso deus da mitologia nórdica, avistado pela primeira vez pelos dinamarqueses e identificado como um consorte de Nerthus, a Mãe Terra. Mais tarde, foi também chamado de Frey.
Esta runa significa em seu sentido mais geral a conclusão. No plano esotérico, significa que o buscador atingiu um estágio de harmonia e felicidade oriundos de sua jornada bem feita e de seu aprendizado.

Significado divinatório:
Posição normal: Realização de um sonho. Fim de um ciclo, conclusão.
Posição invertida: Esterilidade. Sonho partido em mil pedaços. Ruptura da vida por forças ocultas.



DAEG - AURORA

A dualidade Luz e Trevas leva o buscador para um questionamento profundo. Esta runa pede para que o buscador veja além do óbvio. Para os antigos povos do norte, os dias eram curtos e as noites, longas. Aquecer-se sob o Sol era um privilégio saudado com festas e comemorações. A aurora era um momento mágico, assim como o crepúsculo, pois era um momento em que o véu entre as realidades ficava mais tênue e era possível vislumbrar os seres de outros planos.

O iniciado deve conviver bem com a Luz e com as Trevas, tanto no mundo quanto em si mesmo, pois um não existe sem o outro. A vida é equilíbrio e dualidade. Ao separar tudo em bem e mal, o cristianismo quebrou esse equilíbrio, deixando as pessoas muito confusas, como estão até hoje.

Significado divinatório:
Posição normal: Mudança para melhor. Prosperidade e fartura.
Posição invertida: Mudanças que levam a situações desagradáveis. Coação.




ODAL - ANCESTRAL

A runa Odal simboliza o fim da jornada. Em algumas versões, o buscador se depara com a árvore sagrada em meio à floresta que foi seu caminho cheio de desafios. Em outras, ele encontra um aposento vazio, um santuário pessoal. A mais interessante é aquela em que, depois de ingressar num confuso labirinto, ele encontra um espelho, numa alusão clara ao fato de que a divindade está dentro de você mesmo.

A verdade que o iniciado e herói buscam sempre esteve dentro deles mesmos e é traduzida no impulso que deu origem ao primeiro passo.


Significado divinatório: 
Posição normal: Influências ancestrais. Heranças. Propriedade. Notícias distantes.
Posição invertida: Problemas com heranças e propriedades. Comunicação inútil com alguém que não responde. 

Essas são todas as 24 runas nórdicas. O oráculo baseia-se nas 24 e mais uma em branco, que é a runa do destino (o nome já é autoexplicativo). O consulente pode fazer vários jogos com elas, desde os mais elaborados (com 3 runas escolhidas aleatoriamente, com cada uma significando algo) até os mais simples (se escolhe apenas uma runa), para uma resposta rápida.

Formas de jogar: 

Existem inúmeras formas de jogar com o oráculo. A mais simples e a que quase todo mundo usa é a de pegar uma única runa dentro do saquinho e ler o significado, interpretando a mensagem. Há métodos um pouco mais complexos, que consistem em pegar três runas aleatórias, cada uma representando uma fase: a primeira a situação atual, a segunda uma possível escolha futura e a terceira a consequência dessas escolhas. Todo jogo de runas vêm com o saquinho para guardá-las e um manual explicativo, junto com os significados. 

Para quem tiver interesse, em quase todas as casas esotéricas é vendido o jogo das Runas de Odin, com as 24 runas (mais a runa em branco) pintadas em pedra, cristal ou madeira (o preço varia dependendo do material, mas não são tão caras, lembro que paguei R$ 20,00 nas minhas). Se você optar pelas de cristal, as opções são variadas também de acordo com o cristal escolhido. Você pode ter vários jogos, um para cada interesse. Por exemplo, se você quiser fazer perguntas relacionadas ao amor e à vida amorosa, escolha as runas pintadas em quartzo rosa, se as perguntas forem sempre relacionadas a dinheiro, use o quartzo verde e por ai vai. Dizem que elas funcionam melhor se você utiliza os cristais adequadamente. Mas, se você, como eu, quiser um jogo simples para perguntas variadas, compre, além das opções de madeira e pedra, os de cristal, que são neutras.

Essas são as minhas:




Resumidamente, os significados delas são esses. Óbvio que varia alguma coisa, os nomes por exemplo acabam mudando, assim como algumas atribuições. Mas no geral, quase sempre são os mesmos. As runas servem para que o consulente se conheça e possa encontrar respostas para algumas indagações da vida.


História do mundo Viking baseada na Revista Dossiê Super Interessante Lendas Medievais - A História real por trás dos dragões, magos, santos e heróis da Idade das Trevas, Editora Abril, 2014.


sábado, 30 de abril de 2016

O roubo do hidromel



O roubo do hidromel

Hidromel, a bebida dos deuses, teve uma origem um tanto curiosa. Segundo a lenda, tudo começou com Kvasir, um deus obscuro, cuja personalidade e atributos perderam-se nas brumas do tempo. Sabe-se, apenas, que nasceu de uma forma um tanto extravagante, quando Aesires e Vanires, deuses adversários, fizeram uma trégua em sua disputa e se reuniram para selar um pacto de paz. Cada qual, nesta ocasião, cuspiu dentro de um vaso cerimonial e, da reunião de todas as salivas, surgiu Kvasir.


Este deus, contudo, acabou morto por dois anões chamados Fialar e Galar, que cobiçavam a sua sabedoria, seu atributo principal. Durante a noite, enquanto dormia, o deus foi apunhalado pelos dois perversos irmãos, tendo seu sangue sido recolhido por eles e colocado num caldeirão. Depois, tão logo chegaram em casa, misturaram-no a uma porção de mel e o fermentaram até obter o saboroso hidromel, bebida mágica que confere o dom da poesia a todo aquele que a bebe.

Durante muitos anos, os dois perversos anões gozaram das delícias desta bebida, a qual, infelizmente, se tivera o dom de torná-los poetas, não tivera o de torná-los melhores, pois continuaram a cometer, alegremente, as suas torpezas até que numa delas, mataram, por um motivo incerto, um casal de gigantes. Suttung, o filho destes, entretanto, descobriu os autores do crime e foi logo tirar satisfações, exigiu, sob pena de morte, que lhe entregassem, como reparação, o precioso caldeirão, o que eles tiveram o juízo de fazer sem pestanejar. Desde então, foi o gigante quem passou a saborear este néctar - e podemos, perfeitamente, imaginar que tenha se tornado também, senão um grande poeta, ao menos um poeta grande.

Ora, estando então entendido, é preciso dizer, agora, que este gigante tinha uma bela filha chamada Gunnlod. Era ela a guardiã do caldeirão, passando o dia e a noite inteiros a cozinhar e a provar a aromática bebida - o que, por conseqüência, deve tê-la tornado a maior poetisa de todos os tempos. Todos os dias seu pai, Suttung, passava pela caverna, onde Gunnlod morava para provar um pouco do hidromel.

- Ó linda guardiã do hidromel, isto está cada dia mais delicioso! - dizia ele, dando um beijo na filha e saindo, em seguida, para os seus afazeres.

Era este o melhor momento do dia, quando Gunnlod tinha a consciência de estar livre das companhias indesejadas, tendo pela frente apenas o seu delicioso ofício, o qual exercia na mais perfeita solidão das profundezas de sua caverna - um magnífico salão recoberto de estalactites vermelhos e iluminado por tochas e quartzos que esplendiam por todas as concavidades como milhares de vaga-lumes prateados engastados nas rochas. Esta sensação enchia a jovem de tamanha alegria, que ela se punha, imediatamente, a pular descalça, feito uma menina, pelos corredores e salões de pedra de seu paraíso subterrâneo, sabendo que estava livre dos problemas relesmente mundanos que afligiam ao povo da superfície.

Esta afeição de Gunnlod por subterrâneos - que destoava um pouco da sua condição de giganta - levava, muitas vezes, o pai a chamá-la, afetuosamente, de minha duendezinha. Isto, contudo, ao invés de aborrecê-la, a enchia ainda mais de orgulho: - Tenho, realmente, a alma de um duende! - dizia sempre, satisfeita.

Por esta época, entretanto, já andava pelo mundo um deus, ainda muito jovem, mas que já era sábio e dinâmico o bastante para ter criado muitas coisas. Seu nome era Odin e poucos desconheciam o seu poder e inteligência. Por muito tempo, intrigara-o o caso do infeliz deus Kvasir, morto pelos anões. Todos, em Asgard, sabiam da tragédia e a grande especulação estava voltada para o fato de se saber onde andaria o tal caldeirão do hidromel, pois todos queriam provar desta maravilhosa bebida.


- Odin, somente você poderá nos trazer este deleite supremo! - diziam-lhe todos, confiando no seu gênio e na sua capacidade de conseguir o que queria.

Depois de tanto ser aborrecido com esta história, Odin decidiu-se, afinal, a ir procurar pela tal bebida. O deus seguiu a pista dos anões e, após havê-los encontrado, conseguira arrancar deles a história dos seus crimes.

- Onde está o hidromel, vermezinhos? - disse ele, ameaçando-os com uma terrível punição.

Os anões confessaram que Suttung, o filho dos mortos, havia-o levado, o que bastou para Odin dar-lhes as costas e os deixar chacoalhando os joelhos em cima de duas pequenas poças amarelas. O deus dirigiu-se, imediatamente, para as terras de Suttung. Já ia a meio do caminho, quando passou por um campo onde havia nove homens ceifando. Eram os lavradores de Baugi, o irmão de Suttung. Odin percebeu, logo, que as foices que eles usavam estavam completamente cegas.

- Ei, campônios, não querem amolar as suas foices? - disse ele, com um grito.

- Oh, sim! claro que queremos! - responderam, aliviados.

Odin não levou muito tempo para torná-las tão afiadas como eram no dia em que saíram da forja, graças à sua afiadíssima pedra de amolar.

- Esta sua pedra é mágica! Dê-a para nós! - exclamou um deles.

- Claro, aqui está - disse Odin, lançando-a para eles.

Imediatamente, todos se precipitaram para apanhá-la. Na confusão, entretanto, foram com tanta gana à pedra, que se engalfinharam numa briga tremenda, terminando todos estendidos no solo com as gargantas cortadas.

- Oh, deuses, que lástima! - disse Baugi, o senhor dos nove servos mortos.

- Não se aflija - disse Odin, adiantando-se. - Terminarei o serviço deles em troca, apenas, de uma deliciosa taça de hidromel.

- Quem é você, afinal, homem da pedra que mata? - disse Baugi, intrigado.

- Meu nome é Bolverk - respondeu Odin, começando a ceifar o campo.

(Bolverk quer dizer "perverso", mas Baugi não foi atilado o bastante para se dar conta do perigo.)

- Infelizmente, o caldeirão onde ferve o hidromel está sob o controle do meu irmão - disse Baugi, cocando a cabeça -, mas vou falar com ele e ver se consigo arranjar-lhe uma taça.

- Faça isto, meu amigo - disse Odin, de cabeça baixa e afetando indiferença.

Odin ceifou todo o campo - o que lhe custou um bocado de tempo - até que, finalmente, concluiu sua tarefa. Infelizmente, Baugi não conseguira nada com o irmão, que não queria ceder nem um único gole da preciosa bebida.

Odin e Baugi decidiram, então, recorrer à astúcia para que o primeiro pudesse se apoderar do seu justo prêmio.

- Mas me prometa que se servirá somente de uma pequena taça! - disse Baugi ao colega, que prometeu, prontamente, com um sorriso oculto nos lábios.

O irmão de Suttung conduziu Odin pelas regiões elevadas onde ficava a caverna de Gunnlod, a guardiã do hidromel. Era uma grande cordilheira que eles percorreram a custo até chegar ao seu objetivo, quase ao final do dia.

- É aqui, ceifador incansável - disse Baugi, apontando para uma pequena entrada escavada na rocha bruta. - No mesmo instante, começaram ambos a escavar com picaretas, pois a entrada estava bloqueada por um rochedo, que somente Gunnlod, de dentro, podia remover por um mecanismo especial. Depois de terem atravessado um paredão inteiro e muitos túneis, chegaram, afinal, à gruta subterrânea onde Gunnlod se refugiava.

- Agora, você segue sozinho - disse-lhe Baugi, temeroso de ser descoberto.

- Está bem, dono dos nove servos - disse Odin, sem nem lhe agradecer, pois o perfume inebriante da bebida já começava a lhe transtornar os sentidos. Odin foi avançando até que sua cabeça brotou do alto por uma fenda, o que lhe possibilitou descortinar um panorama, verdadeiramente deslumbrante: a grande gruta do caldeirão, com seus estalactites vermelhos e as tochas a reverberar pelas paredes faiscantes. Bem ao centro, estava o caldeirão fumegando, embora a guardiã estivesse ausente.

"É agora a grande chance!", pensou o jovem deus, começando a descer pelo paredão com a agilidade de um verdadeiro alpinista. Infelizmente, porém, quando recém havia posto o primeiro pé no chão, teve a desagradável - ou seria agradável? - surpresa de ver surgir Gunnlod por uma entrada lateral.

- Oh, quem é você, escalador de paredes? - gritou ela, fazendo sua voz ecoar pelos paredões escarpados.

- Nada tema, bela jovem - disse Odin, aproximando-se. - Só quero provar um pouco de sua divina bebida.

Gunnlod sentiu-se, instantaneamente, atraída por aquele belo e esbelto intruso. Mas a sua missão de guardiã falou mais alto e ela, como que despertando de um transe, empertigou-se toda. Na sua mão direita havia um arco com uma flecha pronta para o disparo.

- Não acha que eu mereço ao menos um gole pela façanha de devassar o seu belo esconderijo? - disse ele, com um sorriso maroto.

- Fora daqui - gritou ela -, e não vou repetir duas vezes.

- Calma, bela guardiã; na verdade, estou aqui apenas para receber o pagamento por um trabalho feito a seu tio e, por extensão, a seu pai egoísta.

- Como ousa?...

- Sim, egoísta, pois trabalhei para seu tio pelo preço de uma taça de hidromel e, agora, o pérfido Suttung não quer cumprir a sua parte.

- Modere a sua língua, invasor de cavernas!

- Acalmemo-nos, bela Gunnlod - disse, então, Odin, dando um tom conciliatório à sua voz. - Se não quer me dar a bebida, pronto, não dê!... Não pretendo forçá-la a nada. - Odin avançou ainda mais e estava já a ponto de encostar seu peito ao dela, quando Gunnlod ergueu de novo a sua seta. Mas a mão dele a impediu, suavemente, de realizar o disparo. - Já não lhe disse que não vou obrigá-la a nada? - disse ele, enfatizando a última palavra.

Os dois ficaram olhando-se durante um bom tempo, até que Odin colou os seus lábios aos de Gunnlod. O aroma do caldeirão envolvia a ambos numa fumaça avermelhada que dissipou qualquer resistência que pudesse haver no coração da jovem guardiã que, em momento algum, teve consciência do seu fracasso, senão, de que algo, infinitamente mais belo que uma simples missão apresentara-se em sua vida.

Depois de muito tempo, Odin, tendo ainda a jovem em seus braços - mas já deitados -, reclamou que tinha muita sede.

- Deixe-me provar do hidromel - disse ele, com suavidade.

- Está bem, pode beber... - disse ela, preferindo, no entanto, dar as costas ao amado para não presenciar a derrocada final da sua missão. Mas, subitamente, sentiu sua voz repetir a autorização, agora, como se não fosse dela, com uma sombra estranha de euforia na voz: - Pode beber à vontade...

Odin encontrou três enormes taças e as encheu a ponto de esvaziar completamente o caldeirão. Depois, emborcou-as pela boca como quem estivesse havia anos sem beber uma única gota. Quando retornou para se despedir, percebeu, no entanto, que Gunnlod dormia.

- Adeus, guardiã do meu coração! - disse ele, baixinho, retirando-se com a mesma discrição com a qual entrara.

Mas ela não estivera nunca dormindo, nem nunca diriam dela que fora enganada. Desta acusação, que ela julgava a pior, ela fazia questão de estar livre.

- Nada se fez sem a minha autorização - disse ela, como se já estivesse diante de seu pai irado. Gunnlod sabia, desde já, que nunca mais poderia ser a guardiã do caldeirão ou de qualquer outra coisa neste mundo.

- Ora, basta! - exclamou ela, tornando-se repentinamente altiva e serena outra vez. - Serei, então, doravante, a guardiã de mim mesma!

Odin partiu à toda pressa, mas quando percebeu que Suttung vinha atrás dele transformado em uma águia sedenta de sangue - como ele descobrira o seu plano, jamais ficaria sabendo -, transformou-se também em outra velocíssima águia.

Principiou-se, então, uma perseguição alucinante pelos ares gelados da cordilheira que se estendeu por milhares de quilômetros até que, finalmente, viu brilhar ao longe as torres douradas de seu amado palácio Gladsheim, em Asgard.

Odin deu um grande grito de alerta, o que fez com que todos os habitantes da morada dos deuses corressem, logo, a espalhar pipas enormes e jarros de todos os feitios pelas ruas. Então, Odin-águia começou a regurgitar todo o hidromel que havia ingerido na caverna de Gunnlod sobre os recipientes, de tal sorte que em três voltas inteiras que deu sobre a cidade havia expelido de seu estômago até a última gota da saborosa bebida. Suttung, ao ver que os deuses recolhiam rapidamente os jarros e cubas, reconheceu-se vencido e, com um grande grito de ira, partiu de volta à sua terra. 
E foi assim que, graças a uma sedução e a um traiçoeiro furto, o hidromel passou a ser a bebida predileta dos deuses.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Nórdicos

Cosmologia
Na mitologia nórdica, se acreditava que a terra era formada por um enorme disco liso. Asgard, onde os deuses viviam, se situava no centro do disco e poderia ser alcançado somente atravessando um enorme arco-íris (a ponte de Bifrost).

Os gigantes viviam em um domicílio equivalente chamado Jotunheim (Casa dos Gigantes). Uma enorme ábade no subsolo escuro e frio formava o Niflheim, que era governada pela deusa Hel. Esta era a moradia eventual da maioria dos mortos. Situado em algum lugar no sul, ficava o reino impetuoso de Musphelhein, repouso dos gigantes do fogo.
Outros reinos adicionais da mitologia nórdica incluem o Alfheim, repouso dos elfos luminosos (Ljósálfar), Svartalfheim, repouso dos elfos escuros, e Nidavellir, as minas dos anões. Entre Asgard e Niflheim estava Midgard, o mundo dos homens.
Seres sobrenaturais


Há três “clãs” de divindidades: os Æsir, os Vanir e os Iotnar (referenciados como os gigantes neste artigo). A distinção entre o Æsir e o Vanir é relativa, pois na mitologia, os dois finalmente fizeram a paz, após uma guerra prolongada, ganha pelos Æsir. Entre os embates houve diversas trocas de reféns, casamentos entre os clãs e períodos onde os dois clãs reinavam conjuntamente. Alguns deuses pertencem a ambos os clãs. Alguns estudiosos especulam que esta divisão simboliza a maneira como os deuses das tribos invasoras indo-européias suplantaram as divindades naturais antigas dos povos aborígenes, embora seja importante notar que esta afirmação é apenas uma conjectura. Outras autoridades (compare Mircea Eliade e J.P. Mallory) consideram a divisão entre Æsir/Vanir simplesmente a expressão dos nórdicos acerca da divisão comum Indo-Européia das divindades, paralela aos deuses Olímpicos e os Titãs da mitologia grega, e algumas partes do Mahabharata.
O Æsir e o Vanir são geralmente inimigos dos Iotnar (Iotunn ou Jotuns no singular; Eotenas ou Entas, em inglês arcaico). São comparáveis ao Titãs e aos Gigantes da mitologia grega e traduzidos geralmente como “gigantes”, embora trolls e demônios sejam sugeridos como alternativas apropriadas. Entretanto, os Æsir são descendentes dos Iotnar e tanto os Æsir como os Vanir realizaram diversos casamentos entre eles. Alguns dos gigantes são mencionados pelo nome no Eddas, e parecem ser representações de forças naturais. Há dois tipos gerais de gigante: gigantes da neve e gigantes do fogo. Havia também elfos e anões e, apesar de seu papel na mitologia ser bastante obscuro, normalmente são apresentados tomando o partido dos deuses.



Além destes, há muitos outros seres supernaturais: Fenris (ou Fenrir) o lobo gigantesco, e Jormungard, a serpente do mar que circula o mundo inteiro. Estes dois monstros são descritos como primogênitos de Loki, o deus da mentira, e de um gigante. Hugin e Munin (pensamento e memória), são criaturas mais benevolentes, representadas por dois corvos que mantêm Odin, o deus principal, informado do que está acontecendo na terra; Ratatosk, o esquilo que atua como mensageiro entre os deuses e Yggdrasil, a árvore da vida, figura central na concepção deste mundo.

Assim como muitas outras religiões politeístas, esta mitologia não apresenta o característico dualismo entre o bem e o mal da tradição do oriente médio. Assim, Loki não é primeiramente um adversário dos deuses, embora se comporte frequentemente nas histórias como o adversário primoroso contra o protagonista Thor, e os gigantes não são fundamentavelmente malignos, apesar de normalmente rudes e incivilizados. O dualismo que existe não é o mal contra o bem, mas a ordem contra o caos. Os deuses representam a ordem e a estrutura visto que os gigantes e os monstros representam o caos e a desordem.
Völuspá: a origem e o final do mundo
A origem e o final eventual do mundo são descritas em Völuspá (“A profecia dos Völva” ou “A profecia de Sybil”), um dos poemas mais impressionantes no Edda poético. Estes versos assombrados contêm uma das mais vívidas criações em toda a história religiosa e representa a destruição do mundo, cuja originalidade está na sua atenção aos detalhes.


No Völuspá, Odin, deus principal do panteão dos nórdicos, conjura do espírito de um Völva morto (Shaman ou Sybil) e requer que este espírito revele o passado e o futuro. O espírito se mostra relutante: “O que você pede de mim? Porque você me tenta?”, mas como ela se encontra morta, não mostra nenhum medo de Odin, e continuamente o pergunta, de forma grosseira: “Bem, você quer saber mais?” Mas Odin insiste: se deve cumprir sua função como o rei dos deuses, deve possuir todo o conhecimento. Uma vez que o sybil revela os segredos de passado e de futuro, cai para trás em forma de limbo: “Eu dissiparei agora”.

O passado – No início havia somente o mundo das névoas, Niflheim, e o mundo de fogo,Musphelhein, e entre eles havia o Ginungagap, “um grande vazio” no qual nada vivia. Em Ginungagap, o fogo e a névoa se encontraram formando um enorme bloco de gelo. Como o fogo de Musphelhein era muito forte e eterno, o gelo foi derretendo até surgir a forma de um gigante primordial, Ymir, que dormiu durante muitas eras. O seu suor deu origem aos primeiros gigantes. E do gelo também surgiu uma vaca gigante, Audumbla, cujo leite jorrava de suas tetas primordiais em forma de 4 grandes rios que alimentavam Ymir. A vaca lambeu o gelo e criou o primeiro deus, Buro, que foi pai de Borr, que por sua vez foi pai do primeiro Æsir, Odin, e seus irmãos, Vili e Ve. Então, os filhos de Borr, Odin, Vili e Ve destroçaram o corpo de Ymir e, a partir deste, criaram o mundo. De seus ossos e dentes surgiram as rochas e as montanhas e de seu cérebro surgiram as nuvens.
Os deuses regularam a passagem dos dias e noites, assim como das estações. Os primeiros seres humanos eram Ask (carvalho) e Embla (olmo), que foram esculpidos em madeira e trazidos à vida pelos deuses Odin, Honir/Vili e Lodur/Ve. Sol era a deusa do sol, filha de Mundilfari e esposa de Glen. Todo dia, ela montava através do céu em sua carruagem puxada por dois cavalos nomeados Alsvid e Arvak. Esta passagem é conhecida como Alfrodul, que significa “glória dos elfos”, que se tornou um kenning comum para o sol. Sol era perseguida durante o dia por Skoll, um lobo que queria devorá-la. Os eclipses solares significavam que Skoll quase a capturava. Na mitologia, era fato que Skoll eventualmente conseguia capturar Sol e a devorava; entretanto, a mesma era substituída por sua filha. O irmão de Sol, a lua,Mani, era perseguido por Hati, um outro lobo. Na mitologia nórdica, a terra era protegida do calor do sol por Svalin, que permanecia entre a terra e a estrela. Nas crenças nórdicas, o sol não fornecia luz, que emanava da juba de Alsvid e Arvak.
A Sybil descreve a enorme árvore que sustenta os nove mundos, Yggdrasil e as três Nornas (símbolos femininos da fé inexorável, conhecidas como Urðr (Urdar), Verðandi (Verdante) e Skuld, que indicam o passado, a atualidade e futuro), as quais tecem as linhas do destino. Descreve também a guerra inicial entre o Æsir e o Vanir e o assassinato de Balder. Então, o espírito gira sua atenção ao futuro.
O futuro – A visão antiga dos nórdicos sobre o futuro é notavelmente sombria e pálida. No final, as forças do caos serão superiores em número e força aos guardiões divinos e humanos da ordem. Loki e suas crianças monstruosas explodirão suas uniões; os mortos deixarão Niflheim para atacar a vida. Heimdall, guardião das divindades, convocará os deuses com o soar de sua trombeta de chifre. Se seguirá uma batalha final entre ordem e caos (Ragnarök) que os deuses perderão, como é seu destino. Os deuses, cientes de sua sina, recolherão os guerreiros mais finos, o Einherjar, para lutar em seu lado quando este dia vier. No entanto, no final, seus poderes serão pequenos para impedir que o mundo caia no caos onde ele se emergiu, e os deuses e seu mundo serão destruídos. Odin será engolido por Fenrir, o lobo. Mesmo assim, ainda haverá alguns sobreviventes, humanos e divinos, que povoarão um mundo novo, para começar um novo ciclo.


Os estudiosos ainda se dividem na interpretação das últimas estrofes e deixam em dúvida se esta não foi uma adição atrasada ao mito por causa da influência cristã. Se a referência for anterior à cristianização, o mito do final dos tempos do Völuspá pode refletir uma tradição indo-européia que se deriva dos mitos do zoroastrismo persa, que inspirou, também, os mitos de final de mundo do judaísmo e do cristianismo.
Os Reis e os heróis
A mitologia nórdica não trata somente dos deuses e das criaturas supernaturais, mas também sobre heróis e reis. Muitos deles, provavelmente, existiram realmente, e as gerações de estudiosos escandinavos tentam extrair a história do mito a partir das sagas. Às vezes, o mesmo herói ressurge em diversas formas, dependendo de que parte do mundo germânico os épicos sobreviveram. Como exemplos temos o Völund/Weyland e Siegfried/Sigurd, e provavelmente em Beowulf/Bödvar Bjarki. Outros heróis notáveis são Hagbard, Starkad, Ragnar Lodbrok, Heron T.K.S., O Anel de Sigurd, Ivar Vidfamne e Harald Hildetand. Notáveis também são as shieldmaidens, que eram as mulheres “comuns” que tinham escolhido o caminho do guerreiro.

Adoração germânica



Os Centros da Fé – As tribos germânicas raramente ou quase nunca tiveram templos em um sentido moderno. O Blót, a forma de adoração praticada pelos germânicos antigos e os povos escandinavos, se assemelha aos dos celtas e dos bálticos, ocorrendo normalmente em bosques considerados sagrados. Poderiam também ocorrer em casas e/ou em altares simples, de pedras empilhadas, conhecidas como horgr. Entretanto, parece ter havido alguns centros mais importantes, tais como Skiringsal, Lejre e Uppsala. Adan de Bremen reivindica que houve um templo em Uppsala com três estátuas de madeira de Thor, de Odin e de Freyr.

Padres – Apesar de parecer que um certo tipo de sacerdócio possa ter existido, nunca houve um caráter profissional e semi-hereditário como o arquétipo do druida céltico. Isto ocorre porque a tradição xamanisma foi mantida pelas mulheres, as Völvas. É geralmente aceito que os reinados germânicos evoluíram a partir dos escritórios dos padres. O papel de sacerdócio do rei condizia com o papel comum do godi, que figurava como o chefe de um grupo de famílias e que administrava os sacrifícios.


Sacrifícios humanos – O único testemunho ocular do sacrifício humano germânico sobreviveu no conto de Ibn Fadlan, sobre um enterro do navio de Rus, onde uma escrava menina se ofereceu para acompanhar seu senhor ao mundo seguinte. Testemunhos mais indiretos são dados por Tacitus, Saxo Grammaticus e Adan de Bremen. O Heimskringla descreve que o rei sueco Aun sacrificou nove de seus filhos em um esforço para prolongar sua vida, até que seu trabalho o impediu de matar seu último filho, Egil. De acordo com Adam de Bremem, os reis suecos sacrificavam escravos do sexo masculino a cada nono ano, durante os sacrifícios de Yule, no Templo em Upsalla. Os suecos tinham o direito de eleger e depôr os próprios reis, e tanto o rei Domalde e o rei Olof Trätälja são conhecidos por terem sido sacrificados após anos de inanição. Odin foi associado com a morte por enforcamento, e uma prática possível do sacrifício de Odin por estrangulamento tem alguma sustentação arqueológica na existência de corpos preservados, perfeitamente, pelo ácido das turfas, em Jutland. Um exemplo é Homem de Tollund. Entretanto, não há nenhum testemunho escrito que interprete, explicitamente, a causa destes estrangulamentos, que poderiam, obviamente, ter outras explicações
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Interações com o cristianismo
– Um problema complexo ao interpretar esta mitologia é que, frequentemente, os testemunhos mais próximos que existem das épocas mais remotas foram escritos por cristãos. Como um exemplo de caso, o Younger Edda e o Heimskringla foram escritos por Snorri Sturluson no Século XIII, após quase duas centenas de anos depois que a Islândia se tornou cristã, em torno do ano 1000, em um momento histórico sob um intenso clima político anti-pagão na Escandinávia.


Virtualmente, toda a literatura sobre as sagas vikings se originou na Islândia, uma ilha relativamente pequena e remota. Mesmo contando com o clima de tolerância religiosa que permanecia naquela época nesta região, Sturluson foi guiado por um ponto de vista essencialmente cristão. O Heimskringla, cujas cópias são tão difundidas na Noruega atual quanto a Bíblia, fornece algumas introspecções interessantes nesta direção. Snorri Sturluson introduz Odin como um lorde guerreiro mortal da Ásia que adquire poderes mágicos, se estabelece na Suécia, e se torna um semi-deus após sua morte. Ao remover a divindade de Odin, Sturluson fornece então a história de um pacto do rei sueco Aun com Odin para prolongar sua vida, sacrificando seus filhos. Mais tarde, no Heimskringla, Sturluson apresenta, em detalhes, como o Santo Olaf Haroldsson converteu brutalmente os escandinavos ao cristianismo.
Na Islândia, tentando evitar a guerra civil, o parlamento votou a favor da cristianização, mas tolerou a prática de cultos pagãos na privacidade dos lares. A atmosfera mais tolerante permitiu o desenvolvimento da literatura acerca das sagas, que foi uma janela vital para auxiliar a compreender a era pagã.
Por outro lado, a Suécia teve uma série de guerras civis durante o século XI, que terminou com a queima do templo em Uppsala.



A conversão não aconteceu rapidamente, independente se a nova fé fosse mais ou menos imposta pela força. O clérigo trabalhou fortemente no sentindo de ensinar à população que os deuses nórdicos eram apenas demônios, mas seu sucesso era limitado, e os deuses nunca se tornaram realmente malignos na mente popular. Dois achados arqueológicos extremamente isolados podem ilustrar quanto tempo a cristianização levou para atingir toda a região. Os estudos arqueológicos das sepulturas na ilha sueca de Lovön mostraram que a cristianização levou entre 150 a 200 anos.


Do mesmo modo, na cidade comercial de Bergen, duas inscrições rúnicas do século XIII foram encontradas, onde a primeira diz “pode Thor o receber, pode Odin possuí-lo”. A segunda inscrição é um galdra que diz “eu entalhei runas de cura, eu entalhei runas de salvação, uma vez contra os elfos, duas vezes contra os trolls, três vezes contra os thurs”. A segunda menciona também a perigosa valquiria Skögul.



Apesar de haver poucos testemunhos do século XIV até o século XVIII, o clérigo, tal como Olaus Magnus (1555), escreveu sobre as dificuldades de extinguir a opinião antiga sobre os deuses antigos. O Þrymskviða parece ter sido uma canção raramente resistente ao tempo, como o romântico Hagbard e o Signy, e as versões de ambas foram gravadas no século XVII e século XIX. No século XIX e no início do século XX, os folcloristas suecos documentaram o que o povo comum acreditava, e o que eles deduziram era que muitas tradições dos deuses da mitologia nórdica haviam sobrevevido. Entretanto, as tradições estavam muito longe do sistema coeso desenvolvido por Snorri. A maioria dos deuses tinha sido esquecida e somente o caçador Odin e a figura de matador de gigantes de Thor aparecia em numerosas legendas. Freya era mencionado algumas vezes e Balder sobrevivia somente nas lendas sobre nomes de lugares.


Outros elementos da mitologia nórdica sobreviveram sem ser percebido como tal, em especial a respeito dos seres supernaturais no folclore escandinavo. Além disso, a opinião dos nórdicos sobre o destino foi muito firme até épocas modernas. Desde que o inferno cristão se assemelhou ao domicílio dos mortos na mitologia nórdica, um dos nomes foi aproveitado da fé antiga, Helvite, isto é, punição de Hel. Alguns elementos das tradições de Yule foram preservados, como a tradição sueca de matar um porco durante o Natal, que era originalmente parte do sacrifício a Frey.


Os deuses germânicos deixaram traços no vocabulário moderno. Um exemplo desta influência é alguns dos nomes dos dias da semana. A influência se deu após os nomes dos dias da semana serem desenvolvidos e espalhados pela língua dominante antiga, o latim, que definia os dias como Sol, Lua, Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus e Saturno. Os nomes de terça-feira a sexta-feira foram substituídos completamente pelos equivalentes germânicos dos deuses romanos. Em inglês, Saturno não foi substituído, enquanto sábado foi renomeado após a definição do sabbath em alemão, e é chamado “dia da lavagem” na Escandinávia.

Richard Wagner também foi influenciado pela mitologia nórdica nos seus temas literários, compondo as quatro óperas que compreendem Der Ring des Nibelungen (O Anel do Nibelungo).

No anime japonês: Saint Seiya (Os Cavaleiros do Zodíaco, no Brasil), a mitologia nórdica também é utilizada, fazendo uma conexão com a mitologia grega. O OVA: A Grande Batalha dos Deuses, que é um curta de cinqüenta minutos, foi a primeira produção de Saint Seiya incluindo esses personagens e as lutas eram travadas em Asgard, apresenta alguns nomes como Odin, Loki, Frey e Midgard. Pouco tempo depois é lançada a Saga de Asgard, diferente do OVA, sendo uma série de televisão, não havendo qualquer conexão com a história do OVA, onde Odin era o deus de um pais nórdico (Asgard) e tem como súdita Hilda de Polaris, que é amaldiçoada pelo Anel de Nibelungo cedido pelo deus dos mares Poseidon – essa é a conexão com a mitologia grega. Nessa série, nomes como Thor, Siegfried e Fenrir são citados.

No Universo Marvel, o panteão nórdico e os elementos relacionados a este formam uma parte proeminente das histórias. Thor, em especial, foi um dos super-heróis mais longévelos da companhia. Os heróis do panteão nórdico também são apresentados como os personsagens do anime japonês Matantei Loki Ragnarok.

Odin, Thor, Loki e diversos outros seres e lugares da mitologia nórdica têm papéis recorrentes nas histórias em quadrinho de Sandman, de Neil Gaiman, mais notavelmente nas históriasEstações das Névoas (no Brasil, Estação das Brumas) e Os Mais Amáveis.


Mais recentemente, surgiram tentativas na Europa e nos Estados Unidos de reviver a velha religião pagã sob o nome de Ásatrú ou o Heathenry. Na Islândia, o Ásatrú foi reconhecida pelo estado como uma religião oficial em 1973, que legalizou suas cerimônias da união, nomenclatura dada às crianças e outros tipos de cerimoniais. É também reconhecida com uma religião oficial e legal na Dinamarca e na Noruega, apesar de recente.

A série de jogos da Sony “Valkyrie Profile” se inspira na mitologia nórdica, e coloca como protagonista a valquíria “Lenneth” em sua missão de recrutar os Einherjar para lutarem ao lado dos Aesir, durante o Ragnarok. O jogo foi lançado para o console Playstation. Alguns anos depois, devido ao grande sucesso, foi relançado para o PSP (Playstation Portable) e uma seqüência foi lançada para o Playstation 2 com o subtítulo “Lenneth”, para o Remake do PSP, e “Silmeria” para a versão do Playstaton 2, que foca a história centenas de anos antes dos ocorridos no jogo do Playstation.
A série de jogos do computador Creatures também utiliza diversos nomes da mitologia nórdica. Os mais proeminentes são os três tipos de criaturas com as quais você pode lutar, Nornas, Grendels e Ettins. E muitos nomes estão presentes também nos jogos da série Final Fantasy, dentre eles Odin (um ser que é invocado), a lança Gungnir, uma espada chamada Ragnarok e o martelo de Thor.
Outro jogo de grande sucesso é o MMORPG Ragnarök Online, criado pela empresa sul-coreana Gravity Corp. O game que está presente em diversos países, com servidores locais, nos idiomas dos respectivos países, se passa em Midgard e está repleto de citações sobre a mitologia nórdica, como lugares (Rune-Midgard, Árvore de Yggdrasil, Niflheim), monstros (Hati, Jormungand, etc), personagens (Fenrir, Freya, Valquírias, etc), além de servidores com nomes de personagens Odin, Thor, etc).


Também existe o jogo em terceira pessoa Rune, lançado em 2000 pela Human Head Studios, onde o jogador controlava um viking chamado Ragnar e era totalmente baseado na mitologia nórdica.

Na música, o Heavy Metal apresenta um subgênero especialmente criado com base no panteão nórdico: o Viking Metal, com um vasto grupo de fãs fiéis por todo o mundo. Se caracteriza, principalmente, pelo vocal gutural, pelas rápidas guitarras distorcidas e bateria de peso, pelo uso de instrumentos pouco convencionais, que remetem aos utilizados primitivamente na facção de música nórdica (violinos rústicos, alaúdes, violões folk, etc), e, em especial, pelas letras, sempre com esse padrão de temática, abordando as batalhas e a vida de deuses e seres míticos. Destaque para as bandas Bathory, Ensiferum, Thyrfing, Enslaved e Amon Amarth.
Em 2001, o grupo sueco Therion lançou o álbum Secret of the Runes, o qual remonta às origens e lugares da mitologia nórdica.
A banda norte-americana Manowar lançou em 2007 um álbum intitulado “Gods of War“, no qual é feita uma homenagem a deuses e animais da mitologia nórdica.